domingo, 5 de junho de 2016

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Morre aos 96 anos o ex-ministro Jarbas Passarinho

Pedro Ladeira/Folhapress
Velório do ex-ministro Jarbas Passarinho no oratório do soldado, em Brasília. O político morreu neste domingo (5), aos 96 anos
Velório do ex-ministro Jarbas Passarinho no oratório do soldado, em Brasília
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O ex-ministro Jarbas Passarinho morreu na manhã deste domingo (5) aos 96 anos em sua residência em Brasília.
Segundo o governo do Pará, que decretou luto oficial por três dias, a morte ocorreu em decorrência de problemas de saúde devido à idade avançada.
Nascido no Acre, Passarinho iniciou sua trajetória política no Pará, onde foi governador de 1964 a 1966. Foi senador por três mandatos e, nos governos militares, comandou os ministérios do Trabalho, Educação e Previdência Social. No governo de Fernando Collor, chefiou o Ministério da Justiça.
Em 1968, durante a reunião que decidiu a criação do AI-5 (Ato Institucional nº 5), Passarinho, então ministro do Trabalho, disse uma frase que se tornou célebre. "Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência." O ato aumentou substancialmente os poderes do governo militar e marcou o endurecimento da ditadura no país.
Passarinho era a penúltima pessoa viva que havia participado do encontro que selou o AI-5. A última é o ex-ministro, economista e colunista da FolhaDelfim Netto.
O corpo do ex-ministro foi velado na tarde deste domingo na Paróquia Militar do Oratória do Soldado, em Brasília.
Além de familiares e amigos, compareceram à cerimônia fúnebre o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello, o ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Sérgio Etchegoyen, e o chefe da Casa Militar, Marcos Antônio Amaro.
Para o ministro do Supremo, Passarinho deixa um exemplo para a nacionalidade do país e atuou na vida pública com "desprendimento" e "pureza". "Um homem que teve uma passagem na vida pública muito fértil. Ele foi exemplar em todos os títulos e honrou o Senado", disse.
Na cerimônia, foi rezada uma missa de corpo presente pelo capelão militar José Eudes e, por volta das 15h30, o corpo foi levado ao cemitério Campo da Esperança, para o enterro.
Nas redes sociais, o presidente interino, Michel Temer, expressou sentimento de pêsames e o chamou de "grande brasileiro". A presidente afastada, Dilma Rousseff, não se pronunciou até o momento.
O Exército Brasileiro lamentou a morte, prestou solidariedade à família e ofereceu apoio material ao velório e ao sepultamento.
DO ACRE A BRASÍLIA
Jarbas Gonçalves Passarinho nasceu em Xapuri, no Acre, em 11 de janeiro de 1920, filho do pequeno empresário Inácio de Loiola e de Júlia Gonçalves Passarinho. Mudou-se com a mãe e os irmãos para Belém do Pará em 1923. Lá, cursou os ensinos primário e secundário em escolas públicas.
Foi admitido na Escola Preparatória de Cadetes de Porto Alegre e depois na Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, onde foi presidente do diretório. Fez carreira destacada na arma de artilharia, em Belém, Resende, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Agulhas Negras e outros locais.
Foi nomeado superintendente da Petrobras na região amazônica em 1959. Já no posto de tenente-coronel, chefiou de 1962 a 1964 o estado-maior do Comando Militar da Amazônia, em Belém.
Envolveu-se em conspirações militares desde os anos 1950. Contribuiu para o êxito do golpe de 1964, constituindo-se em um dos principais quadros políticos do novo regime.
Logo após o golpe, foi nomeado Governador do Pará, cargo que ocupou até janeiro de 1966, quando foi substituído por seu pupilo, o major Alacid Nunes, com quem viria a se desentender posteriormente, eleito pela UDN (União Democrática Nacional).
Após a extinção dos partidos políticos em outubro de 1965, Passarinho filiou-se ao novo partido governista, a Arena (Aliança Renovadora Nacional).
Em 1966, foi eleito senador pelo Pará. Apoiou a candidatura presidencial indireta do general Costa e Silva, que o nomeou Ministro do Trabalho e Previdência Social logo que tomou posse, em março de 1967.
A essa altura, encerrou a carreira militar, indo para a reserva com a patente de coronel.
Como ministro do Trabalho, colaborou com a política considerada de arrocho salarial, que levaria às greves de Contagem (MG) e de Osasco (SP), em 1968, apesar do controle governamental sobre as atividades sindicais.
Apoiou pequenas concessões salariais no caso de Contagem e outras para minorar a insatisfação latente do conjunto dos trabalhadores, como a instituição da previdência rural. Mas a greve de Osasco acabou sendo duramente reprimida, com o aval do ministro.
Lula Marques - 10.ago.1995/Folhapress
Ex-senador Jarbas Passarinho no escritório de sua casa em Brasília.*** NÃO UTILIZAR SEM ANTES CHECAR CRÉDITO E LEGENDA***
Jarbas Passarinho em sua casa em Brasília, em retrato feito em 1995
MOBRAL
No governo Médici, ocupou o Ministério da Educação e Cultura, já sob vigência de uma forte legislação repressiva (como o decreto nº 477), que durante alguns anos conseguiu calar o movimento estudantil. Ao mesmo tempo, levou adiante a reforma universitária e do ensino médio.
Não conseguiu implantar o ensino superior público pago para os alunos mais abastados, devido à resistência interna no governo, "receoso da agitação estudantil", segundo Passarinho.
Como resposta ao método politizado de alfabetização de adultos levado adiante por Paulo Freire antes de 1964, implantou o Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização) em 1971.
Durante o governo Geisel, com quem tinha menos afinidade do que com Medici, atuou como senador pelo Pará. Foi dos poucos eleitos pela Arena em 1974 –seis senadores, contra 16 do MDB (Movimento Democrático Brasileiro).
Nessa época, passou a ter participação parlamentar ativa na Arena, foi vice-líder do governo de 1975 a 1977, mas estava distante do círculo mais íntimo do presidente.
Quase 30 anos mais tarde, numa entrevista em 2004, Passarinho viria a dizer que os militares deveriam ter deixado o poder no início dos anos 70. Nessa entrevista, avaliou que o golpe havia sido inevitável, diante do temor que o comunismo representava. "O problema é que durou demais. Deveríamos ter deixado o poder e realizado eleições livres em 1973", disse.
Na gestão de Figueiredo, iniciada em março de 1979, logo após o fim do AI-5, Passarinho assumiu a liderança da Arena e do governo no Senado.
Ajudou a articular a anistia em agosto de 1979, bem como a reforma partidária que extinguiu a Arena e o MDB. Foi um dos fundadores do PDS (Partido Democrático Social), principal base de sustentação do governo.
Elegeu-se presidente do Senado em fevereiro de 1981. No mesmo ano, entrou em conflito pela imprensa e também em plenário com setores da Igreja católica que defendiam direitos de trabalhadores rurais no Pará.
CONTRA AS DIRETAS
Nas eleições de 1982, fragilizado pelo avanço da oposição e pelos desentendimentos com Alacid Nunes no seio do PDS, Passarinho perdeu as eleições para o Senado. Mas logo assumiu o Ministério da Previdência e Assistência Social.
Ele atuou contra a proposta de eleições diretas para a presidência da República. Seu nome chegou a ser cogitado para a sucessão indireta do presidente Figueiredo.
Passarinho apoiou a candidatura, derrotada dentro do PDS, de Mário Andreazza à presidência da República. Buscou inviabilizar a Frente Liberal, dissidência do PDS que ajudou a eleger Tancredo Neves, candidato da oposição.
Em 1986, elegeu-se novamente senador pelo Pará (PDS, em coligação com o PMDB de Jader Barbalho e outros partidos). Participou ativamente da Assembleia Nacional Constituinte, presidindo ou integrando várias comissões.
Como então presidente do PDS e líder do partido no Senado, ajudou a obter do Congresso a aprovação do mandato de seis anos para o presidente José Sarney.
Nas eleições presidenciais de 1989, discordâncias com o candidato Paulo Maluf levaram Passarinho a deixar o comando do PDS.
ALIADO A COLLOR
Em outubro de 1990, foi nomeado Ministro da Justiça pelo presidente eleito, Fernando Collor de Mello. Buscou articular politicamente o governo, que tinha dificuldades no Congresso.
Sem lograr êxito, acabou substituído na reforma ministerial de abril de 1992. Como senador aliado, testemunhou o impeachment de Collor.
Durante o governo Itamar Franco, seguiu no Senado, atuou por exemplo na Presidência da CPI que apurou denúncias de corrupção da chamada "máfia do Orçamento" Geral da União, que envolvia parlamentares (18 deles foram processados, 4 cassados em janeiro de 1994).
Candidatou-se ao governo do Pará em 1993 pelo PPR (Partido Progressista Reformador), fruto da fusão do PDS com o PDC (Partido Democrata Cristão). Foi derrotado no segundo turno por Almir Gabriel, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
Sem mandato, assumiu cargo na CNI (Confederação Nacional da Indústria) em Brasília, onde já trabalhara nos anos 1980. Passou a escrever regularmente para jornais como "O Estado de S. Paulo".
Após a fusão do PPR com o PP (Partido Popular), em 1995, aderiu ao novo PPB (Partido Progressista Brasileiro), e foi eleito presidente da Fundação Mílton Campos, ligada ao partido.
Na eleição disputada entre Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, em 1994, o então senador alertava para o perigo do "radicalismo" de algumas alas do PT, que poderiam deixar Lula isolado, caso ele fosse eleito. Passarinho dizia que o próximo governo tinha de ser democraticamente forte. Mas afirmava que "entre a justiça e a ordem, é preferível a ordem".
No primeiro mandato de FHC, em setembro de 1996, foi nomeado consultor do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), que acabou deixando menos de um ano depois, sentindo-se desconfortável com o que lhe parecia excesso de tolerância com esquerdistas.
Não obstante, acompanhou a decisão do PPB de apoiar a reeleição do Presidente e a candidatura do tucano Almir Gabriel no Pará. Integrou o comitê de assessoramento político da campanha de Cardoso. Em dezembro de 1998, foi nomeado membro do Conselho da República.
Em pleno século 21, seguiu no debate público como um dos defensores mais ardorosos do regime instaurado em 1964 e também dos militares acusados de violação aos direitos humanos. Mas dizia que a tortura não era uma política de Estado e sim uma "deformação profissional".
ESCRITOR
Menos conhecida é sua atividade como escritor e intelectual: em 1949, ganhou prêmio de concurso da Prefeitura de Belo Horizonte com o conto "Um Viúvo Solteiro". Em 1959, com o romance "Terra Encharcada", recebeu da Academia Paraense de Letras o prêmio Samuel Wallace Mac Dowell.
Em maio de 1991, lançou "Na Planície", o primeiro volume de suas memórias. Em 1996, o conjunto das memórias foi publicado com o título "Um Híbrido Fértil". Autor de outras obras, como "Amazônia, o Desafio dos Trópicos" (1971) e "Liderança Militar" (1987).
Pertencia à Academia Paraense de Letras, ao Instituto Histórico e Geográfico do Pará e ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Recebeu inúmeras condecorações e 17 títulos de doutor honoris causa de universidades federais (como as do Rio de Janeiro, Pará, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba) e católicas (Rio Grande do Sul, Campinas, Petrópolis, Bahia, Recife e Goiás), entre outras.
Era pai de cinco filhos com Ruth de Castro Gonçalves Passarinho, de família tradicional paraense, que a princípio se opusera ao casamento. Ficou viúvo em agosto de 1987.


Lava Jato chega a Dilma e fortalece base de Temer

Em Brasília
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  • Paulo Lisboa/Folhapress
    Informações prestadas por Marcelo Odebrecht (f) envolvem diretamente Dilma
    Informações prestadas por Marcelo Odebrecht (f) envolvem diretamente Dilma
O conteúdo inicial da delação premiada do executivo Marcelo Odebrecht causou impacto na ação do impeachment, em trâmite final no Senado, e deverá fortalecer a base governista na tentativa de acelerar o desfecho do processo. As informações prestadas pelo empreiteiro à Operação Lava Jato envolvem diretamente a presidente afastada Dilma Rousseff.
A ação de afastamento tem por base as pedaladas fiscais e ainda precisa ser votada novamente no Senado. Porém, a própria defesa de Dilma tentou incluir semana passada no processo elementos da Operação Lava Jato, que apura desvios na Petrobras. A petista buscava ganhar tempo, enquanto a base governista no Senado quer acelerar o desfecho desta etapa final do trâmite.
Até anteontem, a estratégia de Dilma e do PT era protelar o impeachment apostando no desgaste do presidente em exercício Michel Temer por conta das revelações do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado na Lava Jato, que atingem aliados importantes de Temer no PMDB, como o senador Romero Jucá (RR). A divulgação das primeiras revelações de Odebrecht, no entanto, ampliou o fogo sobre Dilma e forneceu munição para o Planalto.
O líder do governo no Senado, Aloysio Nunes (PSDB-SP), defendeu ontem a inclusão das informações prestadas por Odebrecht como prova no processo de impeachment. Para o tucano, as declarações do empresário deverão ajudar a convencer senadores indecisos de que a petista não tem condições de voltar a comandar o país.
Segundo reportagem da revista IstoÉ, em acordo de confidencialidade com a Operação Lava Jato, Odebrecht disse que Dilma pediu pessoalmente uma doação de R$ 12 milhões para sua campanha eleitoral em 2014. Conforme a publicação, o empreiteiro diz que o então tesoureiro da campanha, Edinho Silva, solicitou o montante, mas a Odebrecht recusou-se a pagar. O empresário, então, teria procurado Dilma, que teria afirmado: "É para pagar".
"Essas declarações ajudam a formar a convicção de que ela não pode permanecer na Presidência. É mais um elemento para corroer aquela fímbria de autoridade que ela tinha", disse Aloysio. Para o senador, as afirmações de Odebrecht devem ser levadas em consideração no julgamento do impeachment. "Isso contribui para desmoronar aquela imagem virginal que ela o PT construíram dela e da gestão dela".
De acordo com a revista Veja, Odebrecht também afirmou que a reeleição de Dilma foi financiada com propina depositada em contas no exterior.

Áudios

Na avaliação de Aloysio Nunes, o próprio advogado de Dilma, José Eduardo Cardozo, abriu espaço para essa inclusão, ao pedir ontem na comissão do impeachment do Senado a inclusão como prova dos áudios em que Jucá defende estancar as investigações da Lava Jato. "Já que é para falar do conjunto da obra, fica evidente que (a declaração de Odebrecht) deve ser levada em consideração." Na sessão da comissão do impeachment do Senado, na quinta-feira, o pedido de Cardozo foi negado pelo relator do processo, senador Antonio Anastasia (PSDB-MG). O tucano mineiro sustentou que os áudios de Jucá são estranhos ao processo. "Os áudios não são fatos novos, não alargam o objeto. Não são estranhos ao processo, eles são o processo", rebateu o advogado de Dilma.
O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), disse que Dilma Rousseff deveria renunciar ao cargo e "poupar o Brasil" da espera pelo desfecho do processo de impeachment. "Já existiam insinuações nesse sentido e agora vem a comprovação final da participação direta da presidente da República em todos esses atos irregulares e criminosos na operação da Petrobras", afirmou.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que as acusações de Marcelo Odebrecht sobre pedido de doação ilegal para a campanha da presidente afastada reforçam a tese de cassação da chapa das eleições presidenciais de 2014 formada pela petista e por Temer.
"Se confirmado, isso contamina a chapa. Afinal, Temer não seria presidente interino se Dilma não tivesse sido eleita", afirmou Randolfe. Para o senador, a declaração de Odebrecht reforça a necessidade de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) julgar logo o caso. A chapa Dilma-Temer é alvo de quatro ações ajuizadas pelo PSDB, pedindo a cassação por abuso de poder econômico nas eleições presidenciais de 2014. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Fiquei chocada e não quis continuar no 'The Voice', diz Maria Gadú, ex-técnica do programa

Há dois anos Maria Gadú convive na sala de casa com uma pendência: o quadro inacabado com a imagem de um deus indiano que ela começou a esboçar –e ficou só no desenho, sem pintura. A cantora, que às vezes mexe com tintas e pincéis, quer fazer as coisas no seu tempo.
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"Bicho, foi uma loucura isso que eu vivi durante uns cinco anos", diz ela ao repórter Joelmir Tavares, sentada no sofá de seu apartamento, nos Jardins. Lembra que foi "sufocante" a fase em que despontou, em 2009. "E é uma parada meio louca ter o nível de exposição que eu tive. E o nível de amor que eu recebi, ao mesmo tempo. Você vai ficando sem espaço."
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Ficou tão cansada que adoeceu e precisou dar uma pausa. Com a cabeça a mil entre gravações, turnês, programas de TV e a necessidade de "desmitificar" tudo rápido ("Tinha que aprender que era normal estar com Caetano [Veloso], [Gilberto] Gil, Milton [Nascimento]"), quis de novo buscar o espaço dela.
E voltou em 2014 para São Paulo, sua terra natal, deixando o Rio que a lançou à fama e com o qual ela nunca se entendeu muito bem. "Eu fui para passar uma semana e fiquei oito anos [risos]. Mas uns seis foram mais viajando do que na cidade." Urbana, não curtia praia nem o estilo de vida de alguns artistas lá.
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"São Paulo tem a cultura de ter que fazer e chegar a algum resultado. As pessoas vão para o Rio sonhando que alguém vai te ver e te colocar em um lugar. Tem um monte de gente esperando o bonde passar. Da minha geração, tenho mais amigo fodido no Rio do que aqui. Os daqui se viram, movimentam, colaboram uns com outros e trabalham, sabe? No Rio é um bando de fodido sem dinheiro pra pagar um cigarro, botando foto do Arpoador [risos]."
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Mas não que ela queira virar as costas para a cidade. Está, por exemplo, reformando uma casa que comprou em São Conrado para transformá-la em centro cultural.
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Ainda no Rio, aproximou-se em 2013 da "indústria do sonho" como técnica auxiliar do programa de calouros "The Voice", da Globo. "Vi ali uma galera sedenta de sucesso e acho... Não sei. Fiquei um pouco chocada com isso de procurar uma voz. Acho que o caminho artístico não se baseia só nisso. Eu não vi um conteúdo da voz, qual a mensagem que você quer transmitir. Por isso até que eu nem quis participar mais."
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Com uma camiseta da Minha Sampa, ONG que ela conheceu ao apoiar o movimento de ocupação das escolas, no ano passado, a cantora anda ligada no que acontece na cidade, menos "morna" do que quando ela foi embora. Elogia os movimentos coletivos que surgem, as pessoas na rua, "com menos medo, no Minhocão, na Paulista Aberta", ou "desenvolvendo os próprios empregos" e sendo "mais independentes".
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"Senta aqui, amor! Tá muito longe", diz, virando-se em direção à mesa de jantar. A produtora e artista plástica Lua Leça, com quem está casada desde 2013, prefere ficar lá, trabalhando no computador e no celular. "A Lua fica com vergonha..."
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E Gadú segue falando do "reencontro" com São Paulo, do trabalho como curadora da Virada Cultural deste ano e da série de shows que tem feito em CEUs (Centros Educacionais Unificados) e unidades do Sesc. "Para chegar a cada lugar, uma hora e meia, duas. Na zona leste, meus primos que moram superperto foram no show", diz ela, criada na Vila Mariana.
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"A indústria colocou o artista num lugar que eu [enfática] não gosto. E fui entender porque participei desse lugar, onde o artista tem que ser rico, ganhar dinheiro, ter um status luxuoso." No auge da exposição, "deu um nó na minha cabeça: por que as pessoas estão pagando R$ 200 para olhar para a minha cara? Acho que a cultura não pode ocupar um lugar de luxo".
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Agora, fica mais à vontade com os ingressos gratuitos nos CEUs e a preços populares nos Sescs (que também pagam a ela cachês menores). "Faço arte porque gosto e tem que ser acessível, para eu viver e pra quem está indo me assistir viver também. Se tiver que se endividar para me assistir, fodeu, velho [risos]."
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Entre as voltas pela periferia e as apresentações em casas de shows maiores Brasil afora, Gadú cuida do lar (a diarista vai só duas vezes por semana) e sai na rua sem disfarces. "Uso óculos quando tá sol, chapéu quando o cabelo tá feio. Igual qualquer outra pessoa", conta. Ela e Lua passeiam com a cachorrinha Amora pela vizinhança –mas evitam a noite, por medo que a buldogue seja roubada.
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"A gente vai fazer mercado lá na casa do caralho, que é mais barato [risos]. Quem que consegue fazer um mercado nos Jardins? Não tem condição não, brother. Tu vai com R$ 100 e volta com uma sacolinha com três bananas."
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Como alguém que vive de música, diz que, sim, a crise está afetando os artistas. "Antigamente em abril os cantores já tinham agenda para novembro. Agora tá diferente. E não é que as pessoas gostam menos da sua música. Mas a programação é muito grande e o dinheiro do fã é um só."
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Com planos de gravar um DVD, diz se preocupar mais "com o registro" do que com vendas. "Nada vende pra caralho mais, né? A Rihanna divulgou que foi disco de ouro no Brasil. E ela lançou o CD em janeiro, três meses antes. [Vendeu] 20 mil cópias. É doideira, né? E ela é 'a' Rihanna."
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Gadú desdobra a perna e sente o joelho, que dói desde que ela sofreu uma queda do palco, há três anos. "Coisa de velho! Olha os meus problemas! Meus amigos dizem que tem que pôr um 2 na frente [da minha idade]." Aos 29 anos, mais comedida no álcool e sem o vício em cigarro que a acompanhou durante 18 anos, diz que se sente "coroa", do tipo que "vai dando 11 da noite e bate um sooono".
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Numa inversão de papéis, é o avô paterno, Moacir, 93, quem a aconselha a ir cuidar do joelho. "Ele bebe cervejinha, dirige, salta de asa-delta. Tem desprendimento e acho que é por isso que é feliz. Me inspiro muito nele. Há uns anos, cheguei e falei: 'Vô, então, peguei umas meninas...'. E ele: 'Ai, graças a Deus, homem ninguém merece' [risos]". Seu Moacir, conta a neta, "é apaixonado" por Lua e escreve poemas para ela.